Há uma série que toda a gente devia ver. Chama-se “Newsroom”
e trata de um pivot televisivo que, depois de ter apresentado um noticiário
pouco incómodo para o poder instalado, decidiu começar a mostrar as notícias
como elas deveriam ser. Duras e cruas. Doa a quem doer e sem ser serviçal do
poder. “Fighting the good fight”, é o lema. E mais, o sr. Will McAvoy, o tal
pivot, dizia uma frase que todos, sem excepção, deviam reter. “Não há nada
melhor para uma democracia, que um eleitorado bem informado”. Nada mais
verdadeiro, não é?
Claro que falo de uma série ficcional. Na realidade as coisas
não se passam bem assim. Há pressões e lobbies do poder político e económico. É
verdade que o watchdog teorizado
pelos estudiosos dos media, por vezes torna-se num cocker mansinho e
subserviente. Mas, a história mostra-nos a importância de um jornalismo
independente. Toda a gente conhece o caso Watergate
ou as investigações jornalísticas que decorriam aquando da guerra do Vietname. A
verdade é que ainda há Will McAvoy´s pelo mundo fora, mas com os media
transformados num negócio cuja intenção é lucrar, estão em vias de extinção.
Falo disto a propósito do despedimento colectivo que houve
no jornal Público. Não é algo recente e que me tenha surpreendido. Todos
sabemos que o negócio dos media vai mal em Portugal (e não só). Há pouca gente
a ler jornais, principalmente os de referência. As respostas ao porquê deste
fenómeno acontecer podem ser várias mas, na minha opinião, tudo se resume a uma
simples premissa: somos um povo acomodado e com pouco sentido crítico. A culpa
não será nossa, mas sim da nossa educação. Com educação não falo no canudo que
possuímos ou deixamos de possuir. É falacioso pensar assim. Refiro-me à
participação cívica deficitária que caracteriza a nossa sociedade.
Cortar naquilo que ainda nos dá algum alento civilizacional
– uma imprensa independente, crítica e escrutinadora – é um retrocesso
inquestionável. Para aqueles que não conseguem pensar além da perspectiva
economicista, digo que, um povo mal informado não sabe a quantas anda. E um
povo pouco escrutinador endivida-se. Um povo pouco informado não sabe fazer
contas. E um povo assim não paga dívidas. Até ser afogado por elas.
Em boa verdade, a comunicação social é um negócio aparte.
Acho que nem lhe deveríamos chamar negócio. A expressão “Quarto Poder”, que é
como são tratados os media, diz tudo. Os media, que têm como core business a
informação, não deveria ter como pano de fundo, exclusivamente o lucro.
Sim, o Estado poderia
dar uma “ajuda” aos media. Não subsidiando directamente mas, por exemplo, darem
regalias fiscais aos seus mecenas e mesmo apoiando o jornal reduzindo, por
exemplo, o IVA. Uma proposta que, certamente, agradaria aos liberais que
pululam por este país fora.
Uma coisa é certa, é perigoso tratar a informação como um
negócio. Submetendo a comunicação social à ditadura do lucro, nada nos restará
a não ser a imprensa sensacionalista. A sociedade tornar-se-á mais acéfala e,
como se sabe, não há nada mais perigoso que um povo não pensante. A continuar
neste rumo caminhamos para um fim incerto. A verdade é só uma: estamos entregues
aos bichos.