sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A Geração Perdida

Dizem que sou parte desta que é apelidada de «geração perdida». A tal geração que é acusada de não ter valores nem futuro e que, como se não bastasse, ainda exige muito quando nada produz. Bom, e eu que não sou de mentiras, só posso confirmar tal sentença.

Sim, estamos, de facto, perdidos.

Perdidos numa economia sem capacidade de absorver este imenso capital humano, jovem e altamente qualificado, empreendedor e com vontade de fazer mais e melhor. Perdidos em contextos familiares cada vez menos ortodoxos, assolados por taxas de divórcio brutais e que sobrevivem com escassos recursos económicos.

Sim, não temos valores.

(Poderia dizer em jeito de piada [ironicamente cruel] que o pouco valor que temos raramente ultrapassa os quinhentos euros mensais). Mas também não temos oportunidade de demonstrar as nossas capacidades. Não temos os tempos “das vacas gordas”. Temos antes um desfilar de escândalos protagonizados por cidadãos supostamente “modelo” nesta sociedade, verdadeiros mestres da corrupção que escapam impunes aos seus crimes.

Sim, não temos futuro.

Temos apenas uma luta constante com o presente pois, dia após dia, vivemos um duelo titânico com o desemprego e a precariedade laboral. Temos, também, um acumular de dívida que as mui iluminadas gerações passadas nos deixaram, incluindo ainda a deterioração do Estado Social e a descredibilização política.

Enfim, o panorama é desanimador…Mas, ainda assim, não pedimos que solucionem tudo isto. Não objectivamos apontar o dedo e culpar tudo e todos. Pedimos, apenas, oportunidade para fazer a mudança. Pedimos que nos deixem trabalhar, que nos deixem produzir, que nos deixem ser úteis...

Pedimos, não exigimos! Caso contrário pode levantar-se algum velho do Restelo a clamar por mais restrições para estes cretinos (os tais jovens sem valor nem futuro) que reivindicam condições para sobreviver.



2 comentários:

Ivo Teixeira disse...

Bom texto...

Como experiencia pessoal digo apenas isto:
Estou a trabalhar em São Paulo à pouco mais de um ano...
O meu ordenado é razoável (para o padrão brasileiro inflacionário), no entanto é equivalente ao topo de carreira em Portugal...(topo de carreira sem corrupção agregada quero dizer.
A minha progressão técnica na carreira é veloz, e completamente impensável no contexto Português (Vou em breve trocar de emprego e assumir responsabilidades que em PT apenas teria após um Doutoramento ou uma Cunha do nível Valentim Loureiro).
Isto tudo para reforçar tudo o que dizes, e ainda afirmar sem medo e sem demagogia que somos a melhor geração que Portugal criou...

A Ironia, é que quem governa é exatamente constituída pelas pessoas sem o menor tipo de valor agregado (e mesmo desagregado), pelos sujeitos que cresceram a viver e a jogar com favores e que nada mais fazer que administrar esses mesmos favores em prol do seu crescimento pessoal.

Que esta ironia não desanime...tudo tem o seu tempo e o "mundo dá muitas voltas", e haverá quem nunca se esqueça da cara dos "Relvas" e dos "Sócrates" e de todo o mal que fizeram...

Abraço,
Ivo

Eduardo disse...

Bom texto, sem dúvida, meu caro Miguel.

Abraço!

Eduardo

 
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