sábado, 4 de agosto de 2012

BCE: Liberal ma non troppo?


Milton Friedman, um dos maiores senão o maior teórico do neoliberalismo, escreveu um livro, onde expõe todo o seu pensamento económico. Este pensamento influenciou economistas por todo o globo e inspirou as políticas de Mrs. Tatcher no Reino Unido e de Ronald Reagan nos EUA (de quem foi aliás conselheiro).
Mas, o que me leva a escrever sobre Mr. Friedman neste post é mais do que apenas traçar o seu percurso. É elucidar os leitores sobre as opiniões dele acerca de um dos maiores entraves na política económica do BCE. Escolho Friedman para “aconselhar” Mario Draghi porque sei que este e a políticas do BCE bebem das ideias do prémio Nobel da Economia.
Algures no seu livro “Liberdade para Escolher”, Friedman faz um apanhado sobre as causas que levaram à crise de 1929 e critica fortemente a Reserva Federal Americana (vulgo Fed) pelas políticas adoptadas aquando da crise bancária e monetária. Numa das passagens, Friedman diz abertamente que “quando se deu o colapso, o New York Federal Reserve Bank (…) agiu imediatamente por sua conta no sentido de amortecer o choque, adquirindo títulos do Estado, aumentando desse modo as reservas dos bancos. Isso, por sua vez permitiu aos bancos comerciais amortecer o choque concedendo empréstimos adicionais a firmas cotadas…” Mas, segundo o economista, esta disposição do Fed foi sol de pouca dura e o “Banco Central” americano acabou por fazer menos do que o necessário. “A Reserva Federal poderia ter providenciado uma solução muito melhor caso tivesse promovido aquisições em larga escala, em mercado aberto de obrigações do Estado”, diz.
Noutro parágrafo, Milton Friedman relembra o que a timidez no que toca à expansão monetária pode fazer em tempos de crise. O economista diz que “em vez de compensar, num grau superior ao habitual, para compensar a contracção, a Reserva Federal começou a diminuição lenta da massa monetária ao longo de 1930” sendo que “o efeito combinado do rescaldo do colapso do mercado bolsista e o lento declínio da quantidade de dinheiro em circulação (…) foi uma recessão bastante severa”.
Friedman culmina a sua dissertação, criticando as políticas “hesitantes” do Fed, na altura da Grande Depressão. Na “nossa” Grande Depressão actual, as críticas ao BCE são semelhantes. Se nos EUA a coisa se recompôs, na Europa o risco é maior. A crise arrisca a levar consigo a zona euro e mesmo a União Europeia. A questão é: é o BCE liberal apenas no que lhe interessa? Porque não ouvem o guru da ideologia que, veladamente, seguem? Temos um BCE liberal ma non troppo?

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