domingo, 9 de setembro de 2012

Economia: A perversão do liberalismo



Nos tempos que correm dizer bem do liberalismo bem pode se pode assemelhar a uma blasfémia. Se não estivéssemos numa sociedade onde impera o politicamente correcto arrisco-me a dizer que eram bem capaz de ser condenado ao apedrejamento, tal e qual aquela rapariga paquistanesa acusada de queimar o Corão.

Mas, e como gosto de linchamentos virtuais, aqui vai: há uma face humana no liberalismo. Passo a explicar: como o próprio nome indica liberalismo implica liberdade. Foram liberais, os primeiros que perseguiram variadas emancipações humanas. Saliento Jonh Locke (na liberdade política) e Adam Smith (pai do liberalismo económico). Mais: o raiar do liberalismo (em associação com o iluminismo) deu-se com nomes como Voltaire (liberdade religiosa).

Como podem ver, os princípios eram bons e, arrisco-me a dizer, puros. Já no século XX, mais precisamente no pós-II Guerra Mundial, a batalha era outra. Ressurgia o liberalismo contra a crescente intervenção estatal. Os adversários eram dois: o comunismo e os keynesianos. Neste neoliberalismo dois nomes se destacaram: Friedrich Von Hayek e Milton Friedman (em diferentes espaços temporais).

O primeiro, na sua obra mais conhecida (Caminho para a Servidão), critica o socialismo por se imiscuir demasiado na vida privada dos cidadãos, afectando consequentemente determinadas liberdades individuais. Pelos relatos que nos chegam de países onde o socialismo é uma realidade, sabemos que é verdade. É a supremacia do Estado sob o indivíduo. (Mussolini não tinha uma frase parecida? “Tudo no Estado, nada contra o Estado, e nada fora do Estado”)

Já Friedman (Liberdade para Escolher é a sua principal obra) aponta baterias à burocracia estatal. O economista, que inspirou Reagan e Tatcher, reprova a lentidão e a corrupção existente na máquina do Estado. Não só nos regimes comunistas - onde a falta de diligência era tal que as pessoas tinham de esperar meses pelo arranjo de um simples electrodoméstico - mas também nos regimes de inspiração keynesiana, dado o exemplo dos entraves das agências reguladoras à economia e mesmo à sociedade (a burocracia da Food and Drug Administration – espécie de Infarmed e ASAE americana – que pelo seu excesso de zelo impede que medicamentos, como potencial para salvar vidas, entrem no mercado, é um exemplo). Nós apoiantes da intervenção estatal deviamos, por vezes, ouvir as criticas externas e reflectir.

Mas que se terá passado para o liberalismo se ter tornado tão odiado? A resposta é simples e não é nova. Foi pervertido. O liberalismo foi colonizado por indivíduos sem escrúpulos, para quem a liberdade económica só é boa se lhe encher os bolsos. São os mesmos que aplaudem a liberdade económica, mas correm a pedir auxílio estatal quando rebentam com um banco (Lehman Brothers ou…BPN). Quanto mais teremos um liberalismo parasitário. Friedman, Hayek e Smith seriam os primeiros a reprová-lo.

Não se fiquem a rir os marxistas. Ainda há algum que acredite que na URSS (and so on) se praticou a teoria utópica que Marx preconizou? Já agora, a própria Igreja aplica o cristianismo? Pois é. As coisas nunca são o que deveriam ser. Da teoria à prática vai um (enorme) passo de gigante.

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