sábado, 8 de setembro de 2012

Empreendedorismo: Uma palavra polémica (e não tem que ser)



É uma palavra que está na ordem do dia: empreendedorismo. Divinizada por uns, diabolizada por outros, parece não haver uma discussão na praça pública que atinja a sua essência. Sejamos sensatos. É impossível criar uma sociedade assente apenas no empreendedorismo. Para empreender é preciso uma mistura de força de vontade, talento e, arrisco-me a dizer, 90% de sorte.

Quem defende uma sociedade baseada apenas no empreendedorismo deve ter noção que quer uma utopia que degenerará em distopia. Passo a explicar: a sociedade não se pode virar apenas para aqueles que são empreendedores. Não nos podemos esquecer daqueles que não tiveram a sorte, ou o momentum para investir e empreender. Favorecer o igualitarismo radical é tanto um defeito da esquerda radical que renega qualquer tipo de iniciativa individual, como da direita que quer o empreendedorismo como paradigma social.

Agora, é perigoso rejeitar a evolução que a iniciativa individual (e em boa verdade o empreendedorismo) trouxe à sociedade. Um dos casos paradigmáticos e mais mediatizados nos últimos tempos é, precisamente, a Apple. Grande parte do sucesso desta empresa (e que agora é uma das mais cotadas a nível mundial) deve-se à inspiração (e sobretudo à transpiração) de um homem.

Steve Jobs passou por momentos atribulados, mas não desistiu. Despedido, não baixou os braços, regressou e tornou a Apple uma empresa bem-sucedida. Já disse atrás que não defendo o empreendedorismo como modelo social. A sustentabilidade não me parece real. Agora, é verdade que, a nível europeu, é preciso um maior incentivo aos empreendedores. Desengane-se quem pensa que isto passa por flexibilizações forçadas do mercado laboral.

Na Europa existe uma certa “criminalização” dos empreendedores falhados. Basta olhar para o mapa jurídico europeu. A revista Economist fez um levantamento do tempo que vai desde o fim do processo de liquidação de uma empresa até esta estar livre de dívidas. Por incrível que pareça, é nas maiores economias europeias (Alemanha e França) que o espaço temporal é maior. Se em França demora 9 anos, na Alemanha são necessários 7 anos.Esta revista também aponta a percentagem de empreendedores nos países europeus. Em Itália são 2,3%; na Alemanha 4,2% e na França 5,8%. Números bem inferiores a outros países, como os EUA (com 7,6%), a China (14%) e o Brasil (17%). O que se traduz no pequeníssimo número de empresas europeias bem-sucedidas. Desde 1976 até 2007, a Europa não chegou a criar mais de dez “big companies” com sucesso. Em igual período, nos EUA criaram-se mais de 20 empresas do género.

Quem defende a redistribuição da riqueza, tem que ter em mente uma coisa. Sem criação de riqueza, não haverá distribuição. E a sociedade tem que ajudar a criar um ambiente propício ao florescimento da iniciativa individual. Não estigmatizando quem falhou, mas elogiando por ter tentado. Por outro lado, os empreendedores têm que ter noção de que as condições que a sociedade (e o Estado sim!) lhes dá são essenciais para o sucesso. E devem tentar ao máximo retribuir.

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