segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Crise: A agonia da democracia




São quase ¾ dos portugueses, com crise de expectativas. Para mim serão mais de 3/4. Sendo confrontados, diariamente, com o discurso ignóbil do empobrecimento, os portugueses já nada esperam de melhor. E enquanto nada esperam, o desespero vai crescendo aos pouquinhos. É a janelinha ideal para o demagogo populista surgir. Em tempos foi Sidónio Pais. Quem será hoje, aindanão se sabe.

A verdade é que, felizmente, Portugal ainda vai num estádio muito atrasado. No resto da Europa, forças pouco democráticas. Na Grécia (ou o Portugal, versão viagem ao futuro) já há um partido nazi no Parlamento. E, nesse mesmo país, a força “salvadora”, a alternativa redentora é um partido com raízes na extrema-esquerda. Que Europa é esta?

A juntar-se às sementes destrutivas lançadas pela crise económica, junta-se outra de igual valor. Assistimos a uma deturpação de valores. Não é só na União Europeia com a recorrente retórica dos sulistas preguiçosos vs os nortenhos egoístas. Nota-se mesmo dentro da sociedade, com o culto à estupidez. Falo obviamente de programas televisivos altamente mediáticos, como é a famigerada “aposta” da TVI, a Casa dos Segredos. Face a isto temos 1% do PIB direccionado à Cultura. E ainda se pretendem cortes na Educação. Já dizia o realizador italiano Frederico Fellini. “A raiz do fascismo é a estupidez”. Acrescento ainda que o fascismo não é exclusivo da direita. Há muito fascista que se diz de esquerda. E são piores, porque são hipócritas.

Sobre esta sociedade estupidificada pairam os abutres que se querem banquetear com as carnes de uma democracia putrefacta  E ela está, de facto, moribunda. Precisa de ser reanimada, com recurso a uma participação cívica mais activa. E com uma aproximação dos cidadãos ao poder. Só assim poderemos espantar aqueles que salivam enquanto a democracia agonia.

Por isso deixo aqui um apelo a todos os responsáveis políticos nas altas instâncias europeias (é onde a verdadeira “guerra” está a ser travada). Vejam o que a falta de flexibilidade e concertação europeia está a fazer. Olhem para a Grécia. Olhem para Portugal. Olhem mesmo para os paísesnórdicos.

O eurocepticismo, agarrado ao nacionalismo (que distingo de patriotismo), cresce sem parar. Aos poucos vai tomar o coração dos europeus, face à não apresentação de outras alternativas. A crise de expectativas vai levar as pessoas a preferirem o caminho fácil, mesmo que não seja o verdadeiro. Depois não digam que foi tarde demais. Nos anos 30, algo poderia ter sido feito. Não foi. Por isso morreram 60 milhões de pessoas.

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