terça-feira, 23 de outubro de 2012

Democracia: Jogos perigosos



Há jogos perigosos que não devem ser jogados em alturas críticas. Medina Carreira e César das Neves, escolheram, numa má altura, más palavras. Se quanto a César das Neves, a crítica ao sistema democrático me parece inédita, não se passa o mesmo quanto a 
Medina Carreira, surpreendentemente ex-ministro das Finanças.

Dizem os senhores que não é possível controlar a despesa pública em democracia. Isto não é senão um atestado de incompetência à população portuguesa. “Vocês não sabem decidir”. “São ingénuos e constantemente enganados”. Sim, o senhor Medina Carreira gosta de fazer apologia a Salazar. A despesa pública, de facto diminuiu, com o dr. Oliveira Salazar, mas e o resto? Engraçado que os acérrimos defensores do liberalismo económico, venha defender um sistema mais ou menos dirigista da economia (ver Campanha do Trigo). E claro, com resultados práticos muito fraquinhos.

César das Neves, ao atacar o sistema democrático português, na verdade repete a lengalenga que já vem do tempo da ocupação romana. Os lusitanos? “Não se governam, nem se deixam governar”. Economista e biólogo, deve ter encontrado um qualquer defeito, no nosso ADN, para concluir que os portugueses são um caso perdido.

Porque é que não somos como os nossos congéneres alemães? Afinal, eles são o supra-sumo europeu, com dívida controlada (há quem diga o contrário) e – pasme-se!- com um sistema democrático. Quem diz Alemanha, diz Suécia, Suíça (esta até com laivos de democracia directa), Finlândia etc etc. 

E, indo atrás, aos anos dourados do "free market" no século XIX, vemos que eram suportados por democracias sólidas. Inglaterra (com um rei ainda com certo poder, mas com um Parlamento firmemente estabelecido) e EUA são os grandes exemplos. Democracias bastante mais antigas que a nossa, claro.

Portanto – e porque acredito que o desabafo do Prof. César das Neves não foi intencional – venho pedir-lhe que ponha a mão na consciência. Arranje um outro culpado, que esse não pega.

0 comentários:

 
O Talho da Esquina © 2012