É famosa a frase atribuída ao diplomata norte-americano
Henry Kissinger: “Europa? Dêem-me um número de telefone!”. Assim era votado ao
desprezo o projecto de união europeia por parte dos americanos. Esqueciam-se
claro, de que o início da existência do seu projecto federal, também foi
difícil e penoso.
O Génesis do federalismo americano apresenta semelhanças
bastante ilustrativas com o que se passa e passou relativamente à União
Europeia. No início, a Europa decidiu construir um bloco face à necessidade de
responder a ameaças externas. O inimigo era o comunismo representado pela URSS.
O mesmo se tinha passado no século XVIII; os Estados americanos que se tinham
declarado independentes, criaram uma confederação para juntos conseguirem fazer
face à ameaça que representava a antiga metrópole, a Grã-Bretanha.
Entretanto, a ameaça desapareceu. No caso da Europa, deu-se
o soçobrar da União Soviética. No que toca aos americanos, acabaram por ser
reconhecidos pela Inglaterra. E o que se deu a partir daí? Pequenas dissensões começaram a fazer-se sentir. No caso americano, o problema prendeu-se com a
liberdade (é sabido como o povo americano preza este direito); os pequenos
Estados tinham medo de perder a soberania para um governo centralizador.
Na Europa sabia-se que era preciso convergir economicamente.
Contudo, na altura, acreditou-se nalguma mão invisível que aproximasse os
países. Criou-se o euro. Foi um erro. Um erro por ter sido feito sem antes se
tentar outro tipo de integração. A juntar a junções de nível monetário, era
imprescindível uma aproximação também no patamar fiscal. Uma integração
orçamental. A ilusão terminou quando se soube que as contas gregas tinham sido deturpadas.
Voltemos aos americanos. Também eles atravessaram o seu
período de desavença. Havia rivalidades (e ainda as há, de certa maneira) entre
os Estados do norte e do sul. Contudo, viram-se obrigados a ultrapassá-las.
Hamilton, Madison e Jay, teóricos do federalismo americano, compreenderam que
era muito mais seguro para os Estados Unidos viverem numa federação. Perceberam
que, para se assumirem como força relevante no mundo, os pequenos Estados
teriam que se unir e procurar objectivos comuns. Não ficaram submissos a um governo central. Apesar
das imposições federais, os pequenos Estados têm leis próprias e alguma
soberania fiscal. O resto da história dos EUA, fala por si.
A Europa passa por um momento decisivo como aponta o
filósofo Bernard-Henri Lévy. A integração política é decisiva, como refere.
Radicando-se em exemplos históricos, diz-nos que apenas as federações
politicamente integradas sobreviveram. Outras, que apenas se limitaram a
congregar monetariamente os Estados, tiveram um fim.
Claro que o caminho inverso pode ser percorrido. O euro
poderia ser abandonado. As consequências são conhecidas e já foram estudadaspelos economistas. Desvalorizações maciças das novas moedas, possível colapso
do sistema bancário, queda abrupta nos salários e claro, o fim do Estado Social
europeu.
Podemos prever que o desabamento da zona euro, poderia
arrastar consigo toda a União e consigo fazer ressurgir os nacionalismos
proteccionistas e agressivos. No final, tudo se resumirá a isto.
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