Passos Coelho está a sentir o veneno que o seu antecessor
tinha provado aquando das manifestações da Geração à Rasca. Há um bloco unânime
contra a governação de Passos Coelho, que é transversal a todo o espectro
político-ideológico.
Vejamos: temos liberais que não perdoam um governo
socialista no que toca a cobrar impostos, temos socialistas que não perdoam ao
PSD ter feito cair o governo Sócrates e temos bloquistas e comunistas que sabem
a importância de capitalizar o descontentamento advindo desta governação.
Na rua este governo tem uma oposição feroz. Acima de tudo
porque este governo desiludiu. As pessoas, saturadas com a governação
socialista, acreditaram num PSD que encarreirasse o país. Passos não
correspondeu. Se os primeiros tempos foram de “Estado de graça”, logo se viu
que o caminho seguido não iria diferir da brutal austeridade. Afinal - e apesar
de Passos ter negado que tal ocorria quando estava na oposição – estamos no
meio de uma grave crise internacional e submetidos a um programa de governo,
acordado com entidades externas e que o PSD tem orgulho em ter “radicalizado”.
Assim sendo, estamos perante uma encruzilhada. Que
acontecerá ao governo Passos? Diz-nos o prof. Freitas do Amaral, no seu livro
acerca do pensamento político ocidental, que um governo que perde a confiança
do povo, também não pode contar com a legitimidade eleitoral. Ora, pelo que se
viu nas recentes manifestações de 15 de Setembro e pelas sondagens que têm sido
feitas, o PSD atingiu esse patamar. E pior, os sociais-democratas sabem que, se
insistirem neste caminho, podem ter o destino do PASOK.
Assim sendo, o governo só tem duas opções: ou remodela o
executivo e segue, esperando resistir à tempestade; ou apresenta a sua demissão
ao Presidente da República. Demitindo-se o governo que opções restariam aos
portugueses?
Por um lado, temos um PS que ainda demora a posicionar-se
como alternativa credível. Apesar de o discurso de Francisco Assis no debate da
moção de censura ter recolocado os socialistas na rota pretendida, o
secretário-geral parece estar aluado quanto aos reais problemas do país. Propor
a diminuição do número de deputados – apesar de necessário – parece desfasado
dos reais problemas que o país atravessa.
Por outro lado a extrema-esquerda, parece estar a ganhar momentum. As urnas dão-lhe mais votos e
mais poder eleitoral, sendo que, como seria de esperar, estão a aproveitar o
descontentamento popular. Contudo, lá no fundo sabem que não estão aptos para
governar. Renegociar a dívida não é fácil quando se parte de uma posição de
inferioridade. Rasgar “o pacto de agressão” traria consequências nefastas, que
mal podemos imaginar.
Por isso, com a alternativa ainda muito “verde”, qual seria
a alternativa de Cavaco? Depois da usar a “bomba atómica” da dissolução da AR,
Cavaco estaria frente-a-frente com o dilema acima descrito. Solução: um governo
de iniciativa presidencial. Não o defendo, mas poderia surgir como um
paliativo. Foi o que sucedeu com Lucas Papademos na Grécia, até ser sucedido
pelo sufragado Antonis Samaras. Aconteceu também na Itália, com Mario Monti,
que de resto estabilizou a Itália.
Não seria a solução ideal. O processo eleitoral democrático
é sempre preferível. Contudo, Cavaco sabe que o governo que sair agora de
eleições não terá estabilidade. Por isso, e porque sabemos que o Presidente da
República é um homem que não tem particular gosto em arriscar (muito menos
quando em nada ganha com isso), a solução de um governo de iniciativa
presidencial será o rumo escolhido. Ou isso, ou a continuação do governo
Passos. A última opção parece estar a esgotar-se.
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