sábado, 16 de fevereiro de 2013

Dívida: Juro que não é pelos juros



Anda aí à solta a retórica de que basta não pagar juros e esta treta ia toda ao sítio. Chegam-se a falar em juros agiotas quando pagámos os juros mais baixos da história da democracia. Argumento que cai logo por terra, bastando ler isto: 


Mas então, se mandarmos a troika com os pastorzinhos, que alternativas nos restam:

  • Os mercados: na última emissão de dívida a cinco anos a taxa de juro ficou nos 4,89%, sendo que agora até já subiu para 5,3%. Ora, se mandarmos a troika ir ver se está a chover, nem quero imaginar para onde disparariam estes juros. Tipo, era o mesmo que ninguém nos emprestar dinheiro. Porquê, perguntamos nós? Moral hazard. Traduzido: porque achamos que vocês não vão pagar de volta.
  • Mas atenção. O mundo não é só a Troika. Temos a China, a Rússia e a Arábia Saudita, por exemplo. Eles sim, eles podiam-nos emprestar dinheiro! Mas bem, sejamos sinceros, a não ser que acreditemos que o Putin, o Xi Jinping e Rei Abdallah bin Abdul Aziz Al-Saud, se tenham tornado santos do dia para noite é difícil de crer que não quisessem algo de volta. Foi o filme que foi com a compra de parte EDP por parte dos chineses, imagino se eles nos emprestassem dinheiro e começassem a mandar o Passos ensinar o povo cantar o The East is Red. Bem, pelo menos isso ia agradar ao MRPP e à UDP. Mas...e os russos? Afinal, eles emprestaram dinheiro aos cipriotas, carago! Porque os cipriotas são uns gajos porreiros? Wrong! Porque os russos tinham lá cerca de 25 mil milhões empatados e não se podem dar ao luxo de perdê-los. Nós o que temos para dar aos russos? Matrioshkas?
  • Não pagámos a dívida. Pronto, ninguém nos empresta dinheiro. A economia tem que se direccionar para o pagamento das contas do Estado. Dificilmente isso não significaria mais impostos. Claro, os investidores estrangeiros nem quereriam meter cá os pés. A Argentina fez isso. Não consegue há dez anos arranjar um euro, no mercado diz o economista Ricardo Reis na edição impressa do Económico. Safou-se (mais ou menos), dizem, porque o valor dos produtos que exporta conseguiram, porventura,  valorizar-se.
Resta-me crer que, no fundo, os anti-troikistas, são os troikistas, mais ferrenhos. Porque sabem que as alternativas são piores, bastante piores. E a troika, e os nossos credores sabem disso. Sabem, que nós não temos muito para onde nos virar. Por isso, também não podemos esticar a corda. 

Moral: não é daqui a 6 meses que iremos negociar de joelhos, como dizia o Artur Baptista da Silva. Caímos de joelhos e mão-estendida quando chamamos a Troika. E não, não culpo o Sócrates. Culpo-o em parte. Infelizmente, o problema é muito mais antigo e profundo. Juro que não é pelos juros (que isto vai ao sítio). 

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